28 de out. de 2012

sobre a música atual

Percebi que tornou-se lugar comum escutar alguém comentar ou postar em suas redes sociais a seguinte constatação:
"hoje em dia nenhuma banda presta, antigamente tínhamos cantores bons com letras interessantes, hoje só há essas bandas ruins que só cantam pornografia e besteiras!"

Olha, eu até entendo a revolta, mas leio esses desabafos e logo penso: mas, será que é isso mesmo?
Depois de refletir um pouco, cheguei à conclusão que não.

O que eu acho é que música ruim sempre existiu, existe e vai continuar existindo. Desde os tempos mais remotos podemos encontrar na nossa história musical marchinhas de duplo sentido, os mais variados bregas, sertanejos e músicas de gosto duvidoso e afins. Mas tendo notado o crescente número de reclamações, também outros fatos vêm à tona.

Acho que ao contrário de antigamente, nos dias de hoje o acesso à música é muito mais fácil. E a forma de difundi-la, cada vez mais poderosa: internet, televisão... Antigamente, quem gostava dos seus "breguinhas" e musiquinhas ruins,comprava um vinil, um k7, colocava lá na vitrola, escutava aquela rádio AM, ou até mesmo FM.

Temo afirmar que com o crescimento do poder aquisitivo dos brasileiros, muitos ganharam dinheiro, mas nem todos ao mesmo tempo adquiriram educação e cultura...e os que já tinham condições de comprar os aparelhos caros, nunca receberam essa educação...e aí é o festival de abusos que presenciamos hoje em dia.

Carros tunados, caixas de som que desafiam até os mais potentes palcos de show, e aparelhos de última geração que permitem que se escute música nas mais insuportáveis das alturas parecem ter invadido o nosso país.

Aliados à falta de fiscalização por parte das autoridades responsáveis (quase ninguém mais liga para a polícia para prestar queixa de barulho, por acreditar que não adianta), a falta de uma cultura musical mais refinada por parte dos donos desses automóveis e aparelhos gera essa onda de que a música brasileira de hoje não tem qualidade: ora, da forma como é exposta a música considerada ruim, ela é quase onipresente!
É escutada nos ônibus, na praia, nas festas de fim de semana, nas ruas, nos bares...e massivamente na televisão.

Enquanto isso,  os apreciadores da boa música quase sempre tem um ouvido mais sensível, e não gostam de volumes que ultrapassam os limites indicados para a boa saúde dos ouvidos. Além disso, possuem a educação doméstica que lhes diz que  aumentar muito o volume de um som não é cortês para com os seus pares.

Quanto à falta de músicas de qualidade nos dias atuais, também não concordo. Temos ótimos cantores, bandas e cantoras, só precisa um esforço a mais para conhecer, procurar e apreciar.

Claro que os exemplos aqui citados são generalizantes - há quem goste de forró e escute apenas para si e pessoas próximas...mas, bem...até hoje eu nunca presenciei um carro passando na minha rua que estivesse tocando Milton Nascimento, ou Debussy nos últimos decibéis...